Luisa Piccarreta
(trechos extraídos do livro “24hs da Paixão”; palavras de Jesus Cristo)
Via Sacra
“Ah, minha filha, quero salvar todas as almas e, prostrado aos seus pés, como pobre mendigo, peço-lhes, importuno-as e, chorando, maquino contra elas insídias de amor, para conquistá-las!
Lava-pés:
Prostrado aos vossos pés, com esta bacia de água, misturada com as Minhas lágrimas, quero lavá-los de qualquer imperfeição e prepará-los para Me receberem no Santíssimo Sacramento.
“Meu filho (Judas), rogo-te com as vozes das lágrimas, não vás para o Inferno! Eu te peço, prostrado aos teus pés: dá-Me a tua alma! Diz, o que queres? O que pretendes? Dar–te-ei tudo, contanto que não te percas. Poupa-Me esta dor, a Mim, que sou teu Deus!”
Eucaristia:
Jesus, meu Coração e minha Vida, este teu aspecto, nunca visto, chama a atenção de todos os Apóstolos; eles estão arrebatados por um doce encanto e nem sequer ousam abrir a boca. A doce Mãe corre em espírito, junto da mesa, para admirar os portentos do Teu Amor. Os Anjos descem dos céus e perguntam-se uns aos outros: “O que é isto? O que é isto? São autênticas loucuras, verdadeiros excessos! Um Deus que cria, não o céu e a terra, mas a Si mesmo. E onde? Dentro da matéria ínfima do pão e do vinho”.
Mas, enquanto todos estão ao teu redor, ó Amor insaciável, vejo que tomas o pão nas Tuas mãos, o ofereces ao Pai e ouço a Tua voz dulcíssima que diz:
“Pai Santo, graças Te sejam dadas, a Ti que sempre atendes o Teu Filho. Pai Santo, coopera comigo. Tu, um dia, mandaste-Me do Céu à terra para Me encarnar no seio da Minha Mãe, para vir a salvar os nossos filhos; agora, permite-Me que Me encarne em cada Hóstia, para continuar a sua salvação e ser Vida para cada um dos Meus filhos. Vês, ó Pai? São poucas as horas que Me restam da Minha Vida: não tenho coração para deixar os Meus filhos órfãos e sozinhos! Os seus inimigos são muitos: as trevas, as paixões, as fraquezas a que estão sujeitos. Quem os ajudará? Suplico-Te, que Eu permaneça em cada Hóstia, para ser a Vida de cada um e assim colocar em fuga os inimigos e ser para eles Luz, Fortaleza e Auxílio em tudo. De outra forma, para onde irão? Quem os ajudará? As nossas obras são eternas, o Meu Amor é irresistível: não posso, nem quero abandonar os Meus filhos”.
Meu Bem afadigado, beijo a Tua Santíssima Cabeça. Vejo-a cansada, esgotada e totalmente ocupada com o Teu trabalho de amor: “Diz-me, o que fazes?”.
E Tu: “Minha filha, nesta Hóstia trabalho desde manhã até à noite, formando correntes de amor; e quando as almas vêm a Mim, Eu acorrento-as ao Meu coração; mas tu sabes o que é que elas Me fazem? Muitas, esforçando-se, desprendem-se e despedaçam as Minhas correntes amorosas; e como estas correntes estão ligadas ao Meu Coração, Eu sou torturado e entro em delírio. Depois, elas ao quebrarem as Minhas correntes, desvirtuam o Meu trabalho, procurando as correntes das criaturas; e isto fazem-no mesmo na Minha presença, servindo-se de Mim para alcançar os seus fins. Isto entristece-Me muito, despertando em Mim uma “febre” violenta ao ponto de me fazer desfalecer e delirar”.
No Horto das Oliveiras:
E Ele, estremecendo ao som da minha voz, olha para mim e diz-me: “Filha, estás aqui? Estava à tua espera, a tristeza que mais Me oprimia era o abandono total de todos; estava à tua espera para observares as Minhas penas e beberes, juntamente comigo, o cálice das amarguras, que, em breve, o Pai Celeste Me enviará por meio do Anjo. Bebê-lo-emos juntos, porque não será cálice de conforto, mas de amarguras intensas e sinto a necessidade de que alguma alma amante beba dele ao menos algumas gotas. Por isso, chamei-te, para que tu o aceites e possa dividir comigo as Minhas penas e Me assegures que não Me deixarás sozinho no meio de tanto abandono!”
Ah, parece-me que o bendito Jesus abrindo os Seus lábios débeis e moribundos, me diz: “Minha filha, queres saber o que é que Me atormenta mais que os próprios algozes? Saibas que aquilo que eles me farão sofrer pouco a pouco é nada comparado com o que sofro continuamente. É o Amor Eterno que, querendo ter o primado em tudo, Me faz sofrer tudo de uma só vez e nas partes mais íntimas. Ah, minha filha, é o Amor que prevalece sobre Mim e em Mim: o Amor para Mim é cravo, flagelo, coroa de espinhos, o Amor é tudo para Mim; o Amor é a Minha Paixão perene, enquanto aquela que Me causarão os homens é passageira. Ah, minha filha, entra no Meu Coração, venha perder-te no meu Amor e só no meu Amor compreenderás quanto sofri e quanto te amei, e aprenderás a amar-Me e a sofrer só por meu amor”.
Meu amável Jesus, de regresso ao Horto, parece-me que Tu já não podes mais; elevas para o Céu o rosto coberto de sangue e de terra e repetes pela terceira vez: “Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice. Pai Santo, ajuda-Me! Tenho necessidade de conforto! É verdade que, por causa das culpas que tomei sobre Mim, Me tornei repugnante, desagradável, o último dos homens, diante da Tua Majestade infinita; a Tua Justiça está descontente comigo; mas, olha-Me, ó Pai, sou sempre Teu Filho que formo uma só coisa contigo. Ó Pai, tem piedade, ajuda-Me! Não Me deixes sem conforto!”
Depois, ó meu doce Bem, parece-me que Te ouço chamar a Tua querida Mãe, para que venha em teu auxílio: “Terna Mãe, estreita-Me nos Teus braços como Me abraçavas quando Eu era Criança! Dá-Me aquele leite com que Me amamentavas, para Me restabelecer e Me aliviar as amarguras da Minha agonia. Dá-Me o Teu Coração, que constituía toda a Minha alegria. Minha Mãe, Madalena, queridos Apóstolos, vós todos que Me amais, ajudai-Me, confortai-Me. Não Me deixeis sozinho nestes últimos momentos; fazei todos uma coroa ao meu redor; dai-Me conforto com a vossa companhia e com o vosso amor!”
Meu Jesus, enquanto bebes o cálice repleto de intensas amarguras que o Pai Celeste Te mandou, sinto que suspiras, gemes e deliras ainda mais e com voz sufocada dizes: “Ó almas, ó almas, vinde, aliviai-Me! Entrai na Minha Humanidade; quero-vos, desejo-vos! Não sejais surdas à Minha voz, não torneis vãos os Meus desejos ardentes, o Meu Sangue, o Meu Amor, as Minhas penas! Vinde, ó almas, vinde!”
A mim parece-me que Tu dizes: “Ó filha, quantas almas, com o seu esforço, Me escapam e caem na ruína eterna! Como é que se poderá acalmar a minha dor se Eu amo tanto apenas uma alma! Imagine a minha dor ao amar todas juntas?”.
Já sinto o barulho dos Teus inimigos que vêm para Te prender; no estado em que Te encontras, quem Te defenderá? Mas, eis que, movendo-Te, como se passasses da morte à vida, olhas para mim e dizes: “Ó alma, estás aqui? Portanto, tu foste testemunha das Minhas dores e de todas as mortes que sofri? Fica sabendo que nestas três horas de acérrima agonia no Horto, encerrei em Mim todas as vidas das criaturas e sofri todas as suas penas e a sua própria morte, dando a cada uma delas a Minha própria Vida. As Minhas agonias sustentarão as suas, as Minhas amarguras e a Minha morte transformar-se-ão para elas em fonte de doçura e de vida. Quanto me custam as almas! Se pelo menos houvesse uma retribuição! Tu viste que, enquanto morria, voltava a respirar; eram as mortes das criaturas que Eu sentia em Mim!”.
Meu Jesus, estás sozinho! Os Teus olhos puríssimos olham em teu redor, para ver se ao menos um dos Teus beneficiados Te segue, para Te assegurar o seu amor e para Te defender; e quando percebes que nem sequer um foi-te fiel, sentes um aperto no Coração e desatas num pranto convulsivo. E sentes mais dor pelo abandono dos Teus mais íntimos, que por aquilo que Te fazem os Teus próprios inimigos. Meu Jesus, não chores, ou antes, faz com que eu chore, juntamente, contigo. E o amável Jesus parece dizer: – “Ah, filha, choremos juntos a sorte de tantas almas consagradas a Mim, que por pequenas provas e dificuldades da vida, não se importam comigo e Me deixam só; por muitas outras tímidas e vis que, por falta de coragem e de confiança, Me abandonam; por tantos e tantos que, não encontrando proveito nas coisas santas, não se importam comigo; por tantos sacerdotes que pregam, celebram, confessam por amor do interesse e da própria glória; estes tais manifestam que estão à Minha volta, mas Eu fico sempre só! Ah, filha, como é duro para Mim este abandono! Não só choram os Meus olhos, mas sangra-Me o coração! Peço-te que repares a Minha dor lancinante prometendo que nunca Me deixarás sozinho”.
Mas, o meu Jesus aflito, tendo-me no Seu Coração, aperta-me com mais força e diz-me: “Meu filha, não fiz nada de mal e fiz tudo: cometi o delito do amor, que contém todos os sacrifícios, o amor de custo incalculável. Estamos ainda no princípio; tu estás no Meu Coração, observa tudo, ama-Me, silencia e aprende. Faz com que o teu sangue gelado corra nas Minhas veias, para restaurar o Meu Sangue, que está todo fervendo; faz com que o teu calafrio socorra os Meus membros, a fim de que fundido em Mim, possa confirmar-Te e aquecer-Te, para tomares parte nas Minhas penas, e juntamente possas adquirir força ao veres em mim tanto sofrimento. Esta será a mais bela defesa que Me farás; sê-Me fiel e atenta”.
Negação de Pedro:
“Filha, queres saber por que estou assim? Escuto a voz de Pedro que afirma não Me conhecer; depois, jura e volta a jurar falso e negar me conhecer. “Como, fazes isto ó Pedro! Não Me conheces? Não te recordas de quantos bens te cumulei? Ah, se os outros me fazem morrer de pena, tu fazes-Me morrer de dor! Ah, como agistes mal seguindo-Me de longe, expondo-te assim às ocasiões!”
Sexta-feira de manhã:
“Pai Santo, dou-Te graças por tudo quanto sofri e por aquilo que Me resta sofrer. E como este amanhecer chama o dia e o dia faz nascer o sol, assim a alba da Graça desponte em todos os corações e, fazendo-se dia, Eu, Sol Divino possa nascer em todos os corações e reinar sobre todos. Ó Pai, vês estas almas? Eu quero responder-Te por todas e pelos seus pensamentos, palavras, obras a custo de sangue e de morte”.
Vestem-no e fazem troça dele:
“Pai Santo, olha o Teu Filho vestido de louco: Eu reparo a loucura de tantas criaturas caídas no pecado. Esta veste branca, diante de Ti, seja como o perdão por tantas almas que se vestem da lúgubre veste do pecado. Vês, ó Pai, o ódio, o furor, a raiva que sentem contra Mim, que quase lhes faz perder a luz da razão, por quererem sedentos o Meu Sangue? Eu quero reparar-Te de todos os ódios, de todas as vinganças, de toda ira, de todos os homicídios, e pedir para todos a luz da razão.
Escolha entre Ele e Barrabás:
Meu Pai, olha para Mim: poderá fazer-se insulto maior? Colocaram-Me à escolha com o maior malfeitor; e Eu quero reparar-Te todas as escolhas que fazem os teus filhos. Ah, todo o mundo está repleto de escolhas: muitos escolhem ao invés de nós o vil interesse, as honras, as vaidades, os prazeres, os apegos, os cargos, os excessos e por fim o próprio pecado. Todas as criaturas, sem exceção, nos preterem, mesmo diante de uma pequena loucura; e Eu estou pronto a aceitar ser preterido a Barrabás, para reparar todas as preterições que nos fazem as criaturas.
Jesus é despojado de suas vestes:
Meu Jesus despojado, permite-me que desabafe, de outra forma não consigo continuar a ver-Te sofrer tanto. Como, Tu que vestes todas as coisas criadas, o sol de luz, o céu de estrelas, as plantas de folhas, os pássaros de penas, Tu estás despojado? Que ousadia! Mas, o meu amado Jesus, com a luz que transmite com o Seu olhar, diz-me:
“Cala-te, ó filha; era necessário que fosse despojado, para reparar por tantos que se despojam de todo o pudor, da candura e da inocência, que se despem de todo o bem, de toda a virtude e da Minha Graça, e se vestem de toda a imundície, vivendo de forma desonrosa. No Meu rubor virginal quis reparar tantas desonestidades, frouxidões e prazeres funestos. Por isso, presta atenção àquilo que faço, reza e repara comigo e acalma-te”.
Todos vós que Me amais, vinde aprender o heroísmo do verdadeiro amor! Vinde saciar, no Meu Sangue, a sede das vossas paixões, a sede de tantas ambições, de tantas vaidades e prazeres, de tantas sensualidades! Neste Meu Sangue encontrareis o remédio para todos os vossos males!”
Flagelação:
Os Teus gemidos continuam a dizer: – “Ó Pai, olha para Mim, estou todo chagado, debaixo desta tempestade de golpes; mas, não é tudo, quero formar tantas chagas no Meu Corpo, como moradas suficientes, no Céu da Minha Humanidade, para todas as almas, de modo a formar em Mim mesmo a sua salvação e depois fazê-las passar ao Céu da Divindade. Meu Pai, cada golpe destes flagelos sirva para reparar diante de Ti todas as espécies de pecado, um por um, e ao atingirem-Me, perdoem aqueles que os praticam. Estes golpes atinjam os corações das criaturas e lhes falem do Meu Amor, ao ponto de as constrangerem a render-se a Mim”.
Coroação de espinhos:
E o meu amável Jesus diz-me: “Minha filha, coragem, não percas nada daquilo que sofri; esteja atenta aos Meus ensinamentos. Eu devo refazer o homem completamente. A culpa tirou-lhe a coroa e coroou-o de opróbrios e de confusão, de tal forma que não pode comparecer perante a Minha Majestade; a culpa desonrou-o, fazendo-lhe perder qualquer direito às honras e à glória. Por isso, quero ser coroado de espinhos, para colocar a coroa sobre a cabeça do homem e restituir-lhe todos os direitos a qualquer honra e glória. Diante do Meu Pai, os Meus espinhos serão reparações e vozes de desculpa por tantos pecados de pensamento, especialmente de soberba, e para cada mente criada serão vozes de luz e de súplica, para que não Me ofendam. Portanto, une-te a Mim, reza e repara juntamente comigo”.
Mas, enquanto digo isto, o meu Jesus chama-me com o Seu olhar de amor e eu, imediatamente, me abraço ao Seu Coração e procuro sustentar a Sua cabeça. Oh, como é belo estar com Jesus, mesmo no meio de mil tormentos! E Ele diz-me: – “Minha filha, estes espinhos dizem que quero ser constituído Rei de cada coração; a Mim compete todo o poder. Tu toma estes espinhos, punge o teu coração e faz sair dele tudo aquilo que não Me pertence e depois deixa dentro um espinho, como selo de que Eu sou o teu Rei e para impedir que não entre mais nada em ti. Em seguida, vai junto de todos os corações e, pungindo-os, faz sair deles todos os ares de soberba e a podridão que neles existe e constitui-Me Rei de todos”.
E Tu, ó Jesus paciente, parece-me que, com dificuldade, olhas para mim, através dos espinhos, e me dizes: “Minha filha, vem lançar-te nestes Meus braços atados, apoia a tua cabeça ao Meu peito e verás dores mais intensas e amargas, porque o que vês no exterior da Minha Humanidade não é senão o resultado dos Meus sofrimentos interiores. Presta atenção às palpitações do Meu coração e sentirás que reparo as injustiças de quem governa, as opressões dos pobres, dos inocentes preteridos aos reis, a soberba daqueles que para manterem os cargos honoríficos, as posições e as riquezas, não se preocupam de ultrapassar qualquer lei e de fazerem mal ao próximo, fechando os olhos à luz da Verdade. Com estes espinhos, quero despedaçar o espírito de soberba dos seus governos, e com as chagas que formam na Minha cabeça, quero percorrer as suas mentes, para reordenar nelas todas as coisas, segundo a luz da Verdade. Ao ser tão humilhado, perante este juiz injusto, quero fazer compreender a todos que a única virtude é aquela que constitui o homem rei de si mesmo, e ensino a quem governa que só a virtude, unida ao reto saber, é digna e capaz de governar e de orientar os outros: enquanto todas as outras honras, sem a virtude, são coisas perigosas e de se lamentar. Minha filha, faz eco às Minhas reparações e continua a prestar atenção às Minhas penas”.
Jesus prestes a ser condenado à morte:
E Tu, no entanto, ó meu Jesus dilacerado, movido pela minha dor, parece que me dizes: – “Minha filha, estreita-te ao Meu Coração e toma parte nas Minhas penas e reparações; o momento é solene: decide-se a Minha morte ou a morte de todas as criaturas. Neste momento, duas correntes se derramam no Meu Coração; numa delas estão as almas que, se me querem ver morto, é porque querem encontrar em Mim a Vida; e assim, Eu ao aceitar a morte por elas, as mesmas são libertas da condenação eterna e as portas do Céu abrem-se para recebê-las. Na outra corrente estão as almas que Me querem ver morto por ódio e para dar cumprimento à minha condenação, e o Meu Coração é dilacerado e sente a morte de cada uma delas e as próprias penas do Inferno! Ah, o Meu Coração não aguenta estas dores tão atrozes; sinto a morte a cada palpitação, a cada respiro, e vou repetindo: “Para que tanto Sangue derramado em vão? Por que é que as Minhas penas serão inúteis para tantos?” Ah, filha, apoia-Me porque não aguento mais; toma parte nos Meus sofrimentos, que a tua vida seja uma oferta contínua para salvar as almas, para curar chagas tão lancinantes!”
Segunda coroação de espinhos
Enquanto Te estreito ao meu coração Tu, estreitando-me ao Teu, dizes-me: “Minha filha, faz-me desabafar o Meu Amor e juntamente comigo repara por aqueles que fazem o bem e me desonram. Estes judeus cobrem-Me com as Minhas vestes para Me desacreditarem, ainda mais, perante o povo, para convencê-lo de que Eu sou um malfeitor. Aparentemente, a ação de me vestirem era boa, mas em si mesma era perversa. Ah, quantos fazem boas obras, administram Sacramentos, recebem-nos com fins humanos e até mesmo perversos; mas o bem, realizado com maldade, leva à dureza; e Eu quero ser coroado pela segunda vez, com dores ainda mais atrozes, que da primeira vez, para despedaçar esta dureza e assim, com os Meus espinhos, atraí-los a Mim. Ah, Minha filha, para Mim, esta segunda coroação é muito mais dolorosa; sinto a Minha cabeça flutuar dentro dos espinhos e, a cada movimento que faço ou empurrão que me dão, sofro uma morte. Assim, reparo a malícia das ofensas, reparo por aqueles que, em qualquer estado de ânimo que se encontrem, em vez de pensar na sua própria santificação, se dissipam, rejeitam a Minha Graça voltando a espetar-Me espinhos pungentes; entretanto, sou obrigado a gemer, a chorar, com lágrimas de sangue, e a suspirar a sua salvação.
Vendo a Cruz diante de si
Meu martirizado Bem, juntamente contigo reparo e sofro; mas, vejo que os Teus inimigos Te precipitam pelas escadas abaixo, enquanto o povo Te espera com furor e ansiedade; já têm pronta a Cruz que, com tantos suspiros, Tu procuras e, com amor, a fixas enquanto, com passo firme, Te aproximas dela para abraçá-la; mas, antes para beijá-la e um arrepio de alegria percorre a Tua Santíssima Humanidade, com grande júbilo voltas a olhá-la, medindo o seu comprimento e a sua largura. Nela estabeleces a medida para todas as criaturas; o dote necessário para as unires à Divindade com um laço esponsal e torná-las herdeiras do Reino dos Céus; em seguida, não conseguindo conter o amor com que as amas, voltas a beijar a Cruz e dizes-lhe: “Cruz adorada, finalmente te abraço; eras tu o suspiro do Meu Coração, o martírio do Meu Amor; mas tu, ó Cruz, tardaste até agora, enquanto os Meus passos se dirigiam sempre para ti. Cruz Santa, tu és a meta das Minhas aspirações, a finalidade da Minha existência aqui na terra; em ti concentro todo o Meu ser, em ti ponho todos os Meus filhos e tu serás a sua vida, a sua luz, a defesa, a guarda e a força; tu ajudá-los-ás em tudo e, gloriosos, conduzi-los-ás ao Céu. Ó Cruz, Cátedra de sabedoria só tu ensinarás a verdadeira santidade, só tu formarás os heróis, os atletas, os mártires e os santos. Cruz bela, tu és o meu Trono e, como devo partir da terra, tu ficarás no Meu lugar; dou-te em dote todas as almas; guarda-as, salva-as, confio-as a ti!”
Terceira coroação de espinhos
Entretanto, Jesus olhando-me com o Seu olhar apagado e moribundo, parece que me diz: “Minha filha, quanto me custam as almas! Este é o lugar onde espero a todos para os salvar, onde quero reparar os pecados daqueles que chegam a degradar-se mais do que os animais e se obstinam tanto em ofender-Me, que chegam a não saber viver sem cometer pecados. A sua razão fica cega e pecam desenfreadamente; eis a razão pela qual Me coroam de espinhos pela terceira vez; e ao despirem-Me, reparo por aqueles que se vestem com vestes de luxo e indecentes, pelos pecados contra a modéstia e por aqueles que estão tão apegados às riquezas, às honras e aos prazeres, que fazem de tudo isto um deus para os seus corações.
Ah, sim, cada uma destas ofensas é uma morte que sinto e, se não morro, é porque o Querer do Meu Pai Eterno ainda não decretou o momento da Minha Morte!”
Olha a Cruz novamente
Entretanto, meu Jesus, Tu olhas para a Cruz que os Teus inimigos Te estão preparando; sentes as marteladas com que os Teus algozes fazem os furos onde pregarão os cravos que Te crucificarão, e o Teu Coração bate com muita força, estremece de enlevo divino, aspirando estenderes-Te naquele leito de dor, para selar, com a Tua Morte, a salvação das nossas almas. Sinto-Te dizer: “Ó Cruz, recebe-Me depressa nos teus braços. Eu estou impaciente à tua espera! Cruz Santa, sobre Ti cumprirei tudo: depressa, ó Cruz, cumpre o desejo ardente, que Me consome, de dar a Vida às almas; não adies mais, porque espero ansiosamente poder estender-Me sobre ti para abrir o Céu a todos os Meus filhos”.
Oh Cruz, é verdade que tu és o Meu martírio, mas, em breve, tu serás, também, a Minha vitória e o Meu triunfo mais completo; e, por meio de ti, darei copiosa herança, vitórias, triunfos e coroas aos Meus filhos”.
Ah, parece que o meu amado Jesus me diz: “Minha filha, antecipaste o Meu Amor, a Minha Vontade é que todos aqueles que Me amam sejam crucificados comigo. Ah, sim, vem também tu a estender-te comigo na Cruz, dar-te-ei vida com a minha Vida e ter-te-ei como o predileto do meu Coração”.
Jesus é pregado na Cruz
Meu bom Jesus, vejo que os Teus inimigos levantam o madeiro pesado da Cruz e o deixam cair na cova que eles abriram; e Tu, meu doce Amor, ficas suspenso entre o céu e a terra. Neste solene momento, diriges-Te ao Pai e, com voz débil e fraca, dizes-Lhe: “Pai Santo, eis-me aqui, carregado com todos os pecados do mundo; não existe nenhuma culpa que não caia sobre Mim, por isso, nunca mais descarregues sobre os homens os flagelos da Tua Justiça Divina, mas sobre Mim, Teu Filho. Ó Pai, permite-Me que vincule todas as almas a esta Cruz, e que implore o perdão para elas, com as vozes do Meu Sangue e das Minhas Chagas. Ó Pai, não vês em que estado Me encontro?
Por esta Cruz, em virtude destas dores, concede a todos uma conversão verdadeira, paz, perdão e santidade. Detém o Teu furor contra a pobre Humanidade, contra os Meus filhos; eles são cegos e não sabem o que fazem; por isso, olha bem para Mim e vê em que estado estou, por causa deles: se não tens compaixão deles, tem ao menos piedade deste Meu Rosto sujo de escarros, coberto de Sangue, pálido e inchado devido a tantos murros e golpes recebidos. Meu Pai, tem piedade! Eu era o mais belo de todos e agora estou totalmente desfigurado, a tal ponto que já não Me reconheço; tornei-Me a abjecção de todos e por isso, custe o que custar, quero salvar a pobre criatura!”
Meu Jesus, adorável Crucificado, a criatura continua a irritar sempre a Justiça Divina e, com a sua língua, faz ressoar o eco de blasfêmias horrendas, vozes de imprecações e maldições, conversas maldosas. Ah, todas estas vozes ensurdecem a terra e, penetrando até aos Céus, enquanto ensurdecem o ouvido divino, imprecam e pedem vingança e justiça contra ela própria! Oh, como a Justiça Divina se sente impelida a lançar os Seus flagelos! Oh, como tantas blasfêmias horrendas acendem o Seu furor contra a criatura! Mas Tu, ó meu Jesus, amando-nos com tanto Amor, fazes frente a estas vozes mortíferas, com a Tua voz omnipotente e criadora, e imploras misericórdia, graças e amor para ela. E para aplacar a indignação do Pai, cheio de amor dizes-Lhe: “Meu Pai, volta a olhar para Mim, não ouças as vozes das criaturas, mas a Minha; sou Eu que satisfaço por todos; por isso, Te peço que olhes para a criatura e que a olhes através de Mim; se olhares para ela sem ser através de Mim, o que será dela? É frágil, ignorante, capaz só de fazer o mal, cheia de todas as misérias; piedade, tem piedade da pobre criatura; respondo Eu por ela, com esta Minha língua amargurada pelo fel, ressequida pela sede, seca e a arder de amor”.
Meu amargurado Jesus, a minha voz, na Tua, quer fazer frente a todas estas ofensas, a todas as blasfêmias, para poder transformar todas as vozes humanas em vozes de bênção e louvor. Meu Jesus Crucificado, apesar do Teu Amor e da Tua dor serem tantos, a criatura não se rende; pelo contrário, desprezando-Te, vai acrescentando mais culpas, cometendo sacrilégios enormes, homicídios, suicídios, duelos, fraudes, enganos, crueldades e traições. Ah, todas estas obras perversas, fazem pesar mais os braços do Teu Pai Celestial que, não podendo suportar o peso, está para abaixá-los e derramar furor e destruição sobre a terra. E Tu, ó meu Jesus, para subtrair a criatura do furor divino, temendo vê-la destruída, estendes os Teus braços para o Pai, desarma-O e impedes que a Justiça Divina prossiga o seu curso; e para que Ele se compadeça da miserável Humanidade e se enterneça, dizes-Lhe com voz mais insinuante: “Meu Pai, olha para estas mãos rasgadas e para estes cravos que as trespassam, que me cravam, juntamente, com todas estas obras perversas. Ah, é nestas mãos que sinto todas as dores atrozes que me provocam estas obras malignas. Ó meu Pai, não estás contente com as Minhas dores? Não sou, porventura, capaz de satisfazer-Te? Sim, estes Meus braços desconjuntados serão sempre correntes que terão amarradas as pobres criaturas, a fim de que não Me escapem, a não ser aquelas que queiram libertar-se à viva força; e estes Meus braços serão correntes amorosas que Te amarrarão, ó Meu Pai, para impedir que Tu destruas a pobre criatura; antes, atrair-Te-ei sempre mais a ela, para que derrames sobre ela as Tuas graças e misericórdias!”
Meu amável Jesus crucificado, a criatura ainda não está cansada de Te ofender; quer beber, até ao fim, toda a escória do pecado e corre quase loucamente pelo caminho do mal; precipita-se de culpa em culpa, desobedece às Tuas Leis e, não Te reconhecendo, revolta-se contra Ti e, quase para Te desprezar, quer ir para o Inferno. Oh, como se indigna a Suprema Majestade! E Tu, ó meu Jesus, triunfando de tudo, também da obstinação das criaturas, para aplacar o Divino Pai, mostras-Lhe toda a Tua Santíssima Humanidade dilacerada, desconjuntada, chagada de forma horrível; mostras-Lhe os Teus Santíssimos pés trespassados, contorcidos pela atrocidade das dores, e ouço a Tua voz tão comovida, como nunca, em ato de expirar, querendo vencer a criatura à força de amor e de dor, e, triunfando sobre o Coração Paterno, dizes-Lhe: “Meu Pai, olha-Me da cabeça aos pés: não há parte sã em Mim, não há mais lugar nenhum onde possam abrir-Me mais chagas e causar-Me mais dores: se não Te aplacas diante deste espetáculo de amor e de sofrimento, quem é que conseguirá apaziguar-Te? Ó criaturas, se não vos renderdes a tanto Amor, que esperança vos resta de vos converterdes? Estas Minhas Chagas e este Meu Sangue serão sempre vozes que chamarão, do Céu à Terra, graças de arrependimento, perdão, compaixão por vós!”
Deus-Pai:
“Minha filha, é possível que nem sequer a parte por Ti eleita esteja toda contigo? Antes, parece que estas almas pedem refúgio e abrigo neste Teu Coração para Te amargurar e Te causar uma morte mais dolorosa e, além disso, todas estas dores que Te provocam estão escondidas e encobertas por hipocrisias. Ah, Filho, não posso conter mais a indignação pela ingratidão destas almas, que Me ferem mais do que todas as outras criaturas juntas”.
Mas Tu, ó meu Jesus, triunfando sobre tudo, defendes, também, estas almas e, com o imenso amor deste Teu Coração, fazes um dique, para as ondas de amarguras e de ferimentos que estas almas Te fazem e, para aplacares o Pai, dizes-Lhe: “Meu Pai, olha este Meu Coração; que todas estas dores Te satisfaçam e quanto mais atrozes elas forem, tanto mais potentes serão para o Teu Coração de Pai, para obter-lhes graças, luz e perdão. Meu Pai, não as rejeites, elas serão as Minhas defensoras que continuarão a minha Vida na terra”.
Minha Vida! Meu tudo! Meu Jesus, o que vejo? Ah, Tu estás prestes a morrer, as próprias almas que Te são tão fiéis, estão prestes a deixar-Te; e, depois de tanto sofrimento, com imensa dor, vês que as almas não estão todas unidas a Ti; antes, vês que muitas delas se perderão e ao desvincularem-se dos Teus membros sentes a dolorosa separação. E Tu, devendo satisfazer a Justiça Divina também por elas, sentes a morte de cada uma e as próprias penas que sofrerão no Inferno, e gritas com força a todos os corações: “Não Me abandoneis; se quiserdes mais penas, estou pronto, mas não vos separeis da Minha Humanidade. Esta é a dor das dores, é a morte das mortes; todo o resto seria nada para Mim se Eu não padecesse a vossa separação! Tende piedade do Meu Sangue, das Minhas Chagas e da Minha Morte! Este grito será contínuo em vossos corações. Não Me abandoneis!
Na Cruz
Ó meu Crucificado moribundo, abraçado à Cruz sinto o fogo que queima toda a Tua Santíssima Pessoa; o Teu Coração bate com tanta força que, ao ergueres os ombros, Te atormenta de modo tão angustiante e horrível, ao ponto de fazer com que toda a Tua Santíssima Humanidade passe por uma transformação que Te torna irreconhecível. O Amor, do qual está inflamado o Teu Coração, seca-Te e queima-Te totalmente; e Tu, não conseguindo contê-lo, sentes um tormento terrível, não tanto pela sede corporal, devido ao derramamento de todo o Teu Sangue, mas muito mais pela ardente sede da salvação das nossas almas. Tu, como água, desejarias beber-nos para nos colocares todos a salvo dentro de Ti e, por isso, reunindo todas as Tuas forças, bradas: “Tenho sede”. Ah, estas palavras repete-as a todos os corações: “Tenho sede da tua vontade, dos teus afetos, dos teus desejos e do teu amor; não Me podes dar água mais fresca e doce que a tua alma. Por favor, não Me deixes abrasar. Tenho sede ardente, e por isso não só sinto que a língua e a garganta Me ardem, a tal ponto que não consigo articular sequer uma palavra, mas sinto que também seca o meu Coração e as minhas entranhas. Tem piedade da Minha sede, piedade!” E, como que delirando pela grande sede, abandonas-Te à Vontade do Pai.
O soldado fere o peito de Jesus com a lança
Ah, quantas coisas me diz esta Chaga aberta pelo Amor! E se a tua boca está muda, fala-me o Teu Coração e sinto que me diz: “Minha filha, depois de ter dado tudo, quis ser trespassado por esta lança, a fim de abrir um refúgio para todas as almas neste Meu Coração. Ele, aberto, gritará continuamente a todos: Vinde a Mim se quereis ser salvos! Neste Coração encontrareis a santidade e sereis santos, achareis alívio nas aflições, a força na fraqueza, a paz nas dúvidas e a companhia no abandono. Ó almas que me amais, se Me quereis amar verdadeiramente, vinde habitar sempre neste Coração; aqui encontrareis o verdadeiro Amor para Me amar e chamas abrasadoras para vos queimarem e vos consumarem todas pelo Amor. Tudo está centrado neste Coração: aqui estão contidos os Sacramentos, a Minha Igreja, a vida da Minha Igreja e a vida de todas as almas. Nele, sinto também as profanações que se fazem contra a Minha Igreja, as maquinações dos inimigos, as setas que são lançam contra ela, os Meus filhos espezinhados, porque não há ofensa que este Meu Coração não sinta. Por isso, Minha filha, a tua vida esteja no Meu Coração; defende-Me, repara-Me e conduz-Me todos para ele».
Jesus morre e Nossa Senhora se dirige a Ele
“Meu filho Amado, o único alívio que Me restava, e que diminuía as Minhas dores, era a Tua Santíssima Humanidade, podendo desabafar sobre as suas Chagas, adorando-as e beijando-as. Agora, também, sou privada disto, porque assim quer o Querer Divino, e Eu aceito; mas, Filho, Tu sabes que quero e não consigo. Só o pensar que tenho de Me separar de Ti, Me deixa sem forças e sem vida. Ó Filho, para ter vida e força para Me separar, permite-Me que permaneça totalmente sepultada em Ti e que faça Minha a Tua Vida, as Tuas dores, as Tuas reparações e tudo aquilo que Tu és. Ah, só uma troca de vida, entre Ti e Mim, poderá dar-Me força para fazer o sacrifício de Me separar de Ti!”
Minha Mãe transpassada, vejo que beijas os seus Santíssimos Ouvidos e O chamas e voltas a chamar, dizendo: “Meu filho, será possível que já não Me escutes, Tu que a um pequeno gesto Meu Me escutavas? E agora choro, chamo-Te e não Me ouves? Ah, o Amor é o tirano mais cruel! Tu eras, para Mim, mais que a Minha própria vida, e agora deverei sobreviver a tanta dor? Por isso, ó Filho, deixo os Meus ouvidos nos Teus e faço Meu aquilo que padeceram os Teus Santíssimos ouvidos, o eco de todas as ofensas que neles ressoavam; só isto me pode dar vida: as Tuas penas, as Tuas dores”. E, ao dizeres isto, a dor e a angústia do Teu Coração são tais, que perdes a voz e ficas como que petrificada. Minha pobre Mãe, minha pobre Mãe, quanta compaixão sinto por Ti! Quantas mortes cruéis não padeces!
Mas, o Querer Divino age e reanima-Te, e Tu olhas o seu Santíssimo Rosto, beija-o e exclamas: “Filho adorado, como estás desfigurado e tão irreconhecível! Ah, se o amor não me dissesse que és o meu filho, a minha Vida, o meu Tudo, não Te reconheceria! Ó Filho Amado, a tua Beleza transformou-se em deformidade, as Tuas faces em brancura e a luz, a graça do Teu Rosto – que ver-Te e ficar radiante era a mesma coisa – mudaram-se em palidez de morte. Filho, a que estado ficaste reduzido! Que horrível trabalho fez o pecado nos Teus Santíssimos Membros! Ah, como a Tua Mãe inseparável quereria restituir-Te a Tua Beleza primitiva! Quero fundir o Meu rosto no Teu e fazer Meu o Teu com os socos, os escarros, os desprezos e tudo aquilo que sofreste no Teu Santíssimo Rosto. Ah, Filho, se queres que Eu viva, dá-Me as Tuas penas, se não Eu morro!”
A tua dor é tal, que Te sufoca, deixa-Te sem palavra e ficas inerte sobre o Rosto de Jesus. Pobre Mãe, quanta compaixão sinto por ti! Meus Anjos, vinde aliviar a minha Mãe; a Sua dor é imensa, submerge-A, sufoca-A e fica sem forças e sem vida. Mas, o Querer Divino, vencendo estas ondas, dá-Lhe de novo a vida.
Aproximas-Te da Boca de Jesus e, beijando-a, sentes nos Teus lábios o amargor do fel que tanto amargou a Sua boca e, soluçando, continuas: “Ó Filho, diz uma última palavra à Tua Mãe. Será possível que nunca mais ouvirei a Tua voz? Todas as palavras que me disseste, em vida, como tantas flechas, ferem o Meu Coração de dor e de amor, e agora, vendo-Te sem voz, movem-se no Meu Coração dilacerado, causam-Me tantas mortes e, à viva força, desejariam arrancar-Te uma última palavra Tua. Mas, não a conseguindo, dilaceram-Me e dizem-Me: “Nunca mais O escutarás, nunca mais ouvirás a Sua doce palavra, a melodia da Sua palavra criadora! ”Quantas palavras dizia, quantos Paraísos criava em Mim. Ah, o Meu Paraíso terminou e só terei amarguras! Ah, Filho, quero dar-Te a Minha língua para animar a Tua. Dá-Me tudo aquilo que Tu padeceste na Tua Santíssima Boca: a amargura do fel, a Tua sede ardente, as Tuas reparações e preces; e, escutando, assim, a Tua voz, por meio destas, a Minha dor será mais suportável e a Tua Mãe poderá viver mediante as Tuas penas”.
“Ó Cruz, por que foste tão cruel com o Meu filho? Ah, em nada O poupaste! Que mal te fez? A Mim, Mãe dolorosa, não Me permitiste que Lhe desse, nem sequer, um gole de água quando o pedia, e para matar a Sua sede, deste-Lhe fel e vinagre! Sinto o Meu Coração transpassado desfazer-se em água, e gostaria de o ter aproximado dos Seus lábios para Lhe saciar a sede e sofri ao ser afastada. Ó Cruz, cruel sim, mas santa, porque foste divinizada e santificada pelo contato com o Meu filho! Pela crueldade que usaste para com Ele, dá-Lhe, em troca, compaixão pelos pobres mortais e pelas penas que sofreu sobre ti, alcança graça e força para as almas que sofrem, a fim de que nenhuma delas se perca por causa de tribulações e cruzes. As almas custam-Me muito: custam-Me a Vida de um Filho Deus, e Eu, como Corredentora e Mãe, uno-as a Ti, ó Cruz!”
E beijando-a e voltando a beijá-la, partes. Pobre Mãe, quanta compaixão tenho de Ti! A cada passo e encontro surgem novas dores cada vez maiores e mais amargas, Te inundam, Te submergem, e a cada instante Te sentes morrer. Já chegaste ao lugar onde, esta manhã, O encontraste exausto debaixo do enorme peso da Cruz, derramando sangue e com uma coroa de espinhos na cabeça, a qual batendo contra a Cruz, se enterrava ainda mais, e a cada empurrão Lhe causava dores de morrer. O Olhar de Jesus, cruzando-se com o Teu, procurava piedade, mas os soldados, para impedir tal alívio, empurraram-n’O, fizeram-n’O cair e derramar mais Sangue. Tu vês o terreno banhado de Sangue, ajoelhas-Te, beijas aquele Sangue e ouço-Te dizer: “Meus Anjos, vinde guardar este Sangue, a fim de que, nem sequer uma só gota seja pisada ou profanada”.