Deus não quer que percamos a paz. Poderíamos dizer que a última coisa que Deus quer é que percamos a paz. Mas, por quê? Eu entendi esta verdade uns anos atrás lendo um livro fantástico de um religioso belga chamado Josep Schrijvers cujo título é “O dom de si”. Em determinado momento, ele diz assim: “Mesmo que tivéssemos o governo de um Império, esse cuidado não deveria fazer-nos perder a serenidade, o abandono, do coração, porque a nossa alma vale mais do que todos os reinos da terra. Jesus recusou a coroa que lhe ofereciam os judeus. Desprezou essa oferta sem valor, mas suplica-nos a nós que o façamos rei do nosso coração”.

O que este autor quis dizer com estas palavras? Quis dizer que há um reino que é importantíssimo para Deus que é reinar na nossa alma. E Deus só consegue reinar na nossa alma quando nós estamos em paz. De fato, quando não estamos em paz, não conseguimos ouvir a Deus, Deus não consegue manter um diálogo, um relacionamento amoroso conosco. Assim Deus não pode reinar em nós. Então, não podemos perder a paz em hipótese nenhuma. E estamos vendo, conhecendo melhor a Providência Divina, que não há nenhum motivo para perder a paz.

No entanto, esta confiança total na Providência Divina não é uma realidade no mundo de hoje. Por quê? Porque as pessoas hoje estão muito afastadas de Deus e, então, todo o peso da vida recai sobre elas. E, como a vida não é brincadeira, as pessoas acabam explodindo ou implodindo. Hoje as pessoas querem ou são induzidas a controlar tudo.

Diante disso, é muito importante saber diante dos problemas da vida, qual é a nossa parte e qual é a parte de Deus, já que confiar totalmente na Providência Divina não significa ficar de braços cruzados esperando a intervenção de Deus.

Eu costumo dizer que na solução dos problemas da nossa vida, 10% é responsabilidade nossa e 90% é de Deus. Muitas coisas não estão nas nossas mãos. Nem sequer sabemos se estaremos vivos amanhã. Não temos o controle do futuro, o controle total da nossa saúde, o controle da liberdade dos filhos, o controle do que o chefe pode fazer amanhã conosco, o controle do mercado financeiro, etc., etc.

As pessoas, então, me perguntam: então qual é a minha parte? Eu respondo: a sua parte é lançar mão de todos os meios para resolver os problemas, até antes do limite em que se começa a perder a paz. Esta é a nossa parte e não mais do que isto! Se começo a perder a paz é sinal de que estou querendo controlar algo que não me compete.

Como Deus sabe que não fazemos milagres, o que nos pede, costumo dizer, é fazer o arroz-feijão bem-feitinho. Uma vez que fizemos isso no dia, entreguemos o resto nas mãos de Deus, nas mãos da Providência Divina, e durmamos em plena paz. No dia seguinte começaremos novamente a fazer o arroz-feijão, o que é o razoável que façamos, o que Deus nos inspira.

Com relação ao próprio trabalho ou cumprimento dos deveres, Josep Schrijvers diz neste livro:

Muitas vezes Deus consente que a carga de trabalho ultrapasse as nossas forças e que, apesar de toda a nossa boa vontade, não consigamos terminar as nossas tarefas em tempo oportuno.

Pois bem, visto que as nossas ocupações são queridas por Deus, e não motivadas por simples impulsos humanos, ele quer que apliquemos todo o cuidado no desempenho de cada uma delas. Feito isto, o nosso dever estará cumprido, pois Deus não nos pede um esforço angustiado e trepidante, antes pelo contrário, no-lo proíbe. Deseja somente ver-nos agir na medida das nossas forças, generosamente, sacrificadamente, mas sem que nos aflijamos.

Deus quer ver-nos intensamente ocupados, não preocupados. Se houver obrigações que não possamos terminar no dia com seriedade e aplicação que o dever exige, permaneçamos em paz: a Vontade divina já foi cumprida neste dia. Fizemos o que nos competia e o Senhor está contente. Recomeçaremos no dia seguinte.

Nunca nos angustiemos, portanto; nunca nos deixemos inquietar pelas nossas ocupações, por mais urgentes e graves que sejam. Esmeremo-nos em conservar a serenidade, o abandono, em todo o nosso proceder. Que os nossos movimentos, o nosso andar, o nosso modo de falar sejam o reflexo de uma alma senhora de si. O nosso exterior reagirá de acordo com o nosso interior, e seremos sempre pessoas calmas e com domínio próprio.